Ativista cigana: “Eu tenho medo de sair pela forma como me olham em Portugal”

Ativista cigana: "Eu tenho medo de sair pela forma como me olham em Portugal"

Olga Mariano, ativista cigana, lamenta que o Dia Nacional das Comunidades Ciganas, que se assinala esta quinta-feira, não tenha a devida importância.

A ativista pelos direitos da comunidade cigana, Olga Mariano, fundou e dirigiu diversas associações, entre as quais a “Letras Nómadas – Associação de Investigação e Dinamização das Comunidades Ciganas”, da qual é atualmente presidente.

Olga gostaria que o Dia Nacional das Comunidades Ciganas fosse comemorado como é o Dia de Portugal, por exemplo, em que o Governo dá “uma deixa sobre o dia” e a data é assinalada no Parlamento. Mas vê isso como “um sonho, uma utopia“: “Da forma como estamos a viver estes dias isso é muito difícil“.

Já tenho 71 anos e nunca me senti tão discriminada, tão ilegal dentro do meu país, onde nasci e nasceram todos os meus antepassados desde há 500 anos, como agora“, lamenta, destacando que “qualquer comunidade” a discrimina por ser cigana.

“Não vou por nomes de territórios nem de nações porque não vale a pena, mas sentem-se mais donos de Portugal, ou pensam que são mais parte integrante do que nós e muitas vezes até nos mandam para a nossa terra quando a nossa terra é esta e a deles é que não é. Isto só para ver o que se está a passar hoje em Portugal que nunca na minha vida eu tinha assistido”, explica.

Eu tenho medo de sair pela forma como me olham em locais de comércio no próprio Fogueteiro. Isto realmente é difícil, muito difícil“, lamenta, atribuindo como causa os crescentes movimentos de extrema-direita por toda a Europa e que têm vindo a ganhar terreno em Portugal.

Ainda assim, defende uma luta sem armas, com palavras e ações, que fosse “um por todos e todos por um” para que “essa extrema-direita que se quer levantar que morra à nascença“.

“Nós somos todos cidadãos de pleno direito, não somos cidadãos de segunda, somos portugueses. Há muita boa gente cigana que faz os seus descontos como todos os outros, portanto nós somos cidadãos portugueses ciganos e não ciganos portugueses, primeiro do que tudo a nossa bandeira é portuguesa” afirmou, confessando que é “uma grande tristeza” que isto não aconteça.