A carta aberta de Luís Osório a Daniel Oliveira que está a comover o país: “Já não tem lágrimas para chorar”

O jornalista Luís Osório demonstrou a sua admiração por Daniel Oliveira ao dedicar o seu “postal do dia” ao diretor de programas da SIC.

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O jornalista Luís Osório costuma dedicar um texto no seu Facebook às pessoas que mais admira ou a quem faça alguma boa ação que mereça um destaque. Chama-lhe “postal do dia” e a rubrica costuma fazer as delícias dos seus seguidores, tendo muitos destes textos de admiração ficado virais nas redes sociais ao longo dos anos.

Desta vez, o visado foi Daniel Oliveira, o diretor de programas da SIC, e Luís Osório decidiu partilhar uma conversa entre este e Francisco Pinto Balsemão.

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Leia o texto na íntegra:

“Daniel Oliveira já não tem lágrimas para chorar

1.
Daniel Oliveira, o poderoso diretor de programas da SIC, deu esta semana uma entrevista a Francisco Pinto Balsemão.
O patrão da SIC e do Expresso, e ex-primeiro-ministro, fez perguntas ao homem que lhe tem garantido uma liderança inquestionável nos últimos anos.

Ouvi com atenção.

E depois de ouvir fui procurar coisas sobre Daniel. Li entrevistas e excertos de um livro que publicou aos vinte anos. Vi também uma entrevista que fez a Zé Pedro, talvez a mais íntima que o músico permitiu que se fizesse acerca da sua dependência.

2.
Naquela conversa entre Balsemão e Daniel estavam sentados dois homens que nasceram com bilhetes diferentes.

Francisco era herdeiro de uma fortuna. Filho único, neto único de uma família privilegiada. Não lhe retira o mérito – ao contrário de muitos que torram dinheiro por nunca o terem ganho, Balsemão soube multiplicá-lo com talento e trabalho.

Já Daniel nasceu num bairro social. E os seus pais tinham 16 anos e um instinto natural para a perdição. Um e o outro mergulharam no inferno e nesse mergulho esqueceram-se de proteger o filho. Não o protegeram quando era bebé, não o protegeram quando era criança e nunca estiveram quando era adolescente.

A mãe do Daniel prostituiu-se para alimentar o vício das drogas duras. E fê-lo à frente do seu pequeno filho.

O pai do Daniel chegou a estar preso e parte do seu caminho foi gasto na luta contra a hipótese de ressacar.

Sim, naquela conversa estavam dois homens sentados à frente um do outro. Dois homens que a vida fez por juntar quando, no início dos seus inícios, tinham bilhetes para países opostos.

Pinto Balsemão com o bilhete do privilégio.

Daniel Oliveira com o bilhete dos vencidos, dos que por muito que façam estão condenados a “marrar” com a cabeça contra a parede.

3.
Mas não foi assim.

Daniel não quis que fosse assim.

Amparado pelos avós maternos bebeu do sofrimento e fez do sofrimento uma âncora de salvação. Talvez tenha sido esse o seu truque maior.

Uma mãe que foi prostituta, que se tentou suicidar, que lhe virou as costas em nome do vício?

Um pai que fez o mesmo, que foi preso, que não quis saber?

A larga maioria tentaria escondê-lo, mas Daniel fez o contrário. Mostrou tudo. Encarou de frente o inferno, desafiou-o e nessa exposição ficou protegido para sempre.

Fez do horror a arma mais poderosa de resistência contra o horror.

Fez da condenação à derrota um instrumento da sua fortíssima ambição.

Transformou a perda da infância, e a infelicidade mais funda, numa ficção que o ajudou a fundar a sua própria vida.

4.
E nunca desistiu.

O Daniel nunca parece ter desistido de si próprio.

Quando aos 16 anos escrevia jornais caseiros com folhas A4. Quando apanhava dois autocarros a caminho da SIC para tentar entrevistar as estrelas. Quando fazia esperas a quem passava, quando fez por ser notado, quando pediu uma oportunidade para fazer o que quer que fosse na SIC.

Passaram 25 anos desde o jornal da escola.

E o Daniel Oliveira é hoje uma estrela. Um vencedor, alguém que parece ter o “Toque de Midas”, seja isso o que for.

A SIC continua à frente.

E ele, no alto dos seus 41 anos, continua a fazer chorar os seus convidados.

Um por um, uma por uma, todos e todas choram à sua frente.

Todos choram, menos ele.

As suas lágrimas nunca foram vistas pelo público.

Como poderia chorar, pergunto eu.

Como pode chorar alguém que gastou todas as lágrimas numa outra vida?

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